(sobre uma fotografia de Bráulio Chaves)
I
Do alto não
vejo tudo
vejo partes
há o que se mostra
se entro nesta lateral
tempo fluido
resíduos…
pequenos quadros
reverberam
a ala longa
fotogramas sonoros
risos abafados
II
a escola esse centro
logotécnico diverso
pensar margens
inventar materiais tenazes
fero-ductilidade resilientes
energias e máquinas
existenciais
sibilinos sopros
saberes se
hipotenusas flertam
poiesis
imagine-se.
II
Do solo
batido sobe
o prédio
a respiração
o traço moderno
a curva
mais além
esconde
e requinta
a paisagem inquieta
o olhar dobra
a linha como o aço
a forja sublime.
III
Eleva-se no antigo terreno
onde outrora galinhas ciscavam,
espantadas pela máquina
vassala do progresso urbano.
Primeiro. Pilotis abertos,
passagens abertas
livre vão, caminho
para quem vai ou entra
sequência da liberdade
convite à permanência.
Depois, sinal dos tempos, o muro.
À frente, o grande painel
encardiu, a chuva lavou
a poeira fez o resto, o tempo.
IV
Ouço.
Ecoam-se vozes escondidas,
aquele campo de terra batida
bola joguei amigos amores
sanduíches rápidos no mineirão
não. carrefour
bairro
V
a noite desalenta-se
deixa ver o projeto
a luz futurística
a haver se assim
dissipar-se o fumo.
VI
O bairro acordou do silêncio pastoril.
Só a noite cautelosa traz o secreto sinal
de roça subestimada na beleza
beligerante da cidade vertical.
Indiferente às estrelas o ronco
dos motores as inquietas luzes
as sirenes apressadas pessoas
tudo a requerer urgentes rotinas.
A cidade industrial ali em frente
acorda cedo, às vias anchas
turbinam o coração do Brasil
seguindo ao fim da linha.
VII
Passeio bom. Pela Alpes alcanço o fundo
do campus. Inúmeras reentrâncias, locais
quase secretos onde os estudantes
passeiam distraídos dos sérios currículos.
O ginásio e o seu pequeno labirinto.
O longo corredor que parece alongar
as novas quadras, a apagarem o campo
antigo, a velha grama e os casais jovens.
Na quadra agita-se o basketball das meninas.
Outra em seu uniforme desportivo, deitada,
atira para cima as pernas e lê um livro qualquer.
Na minha direção meninos e meninas animados
ignoram o amanhã, pela simples razão
de que o dia há de chegar mansamente.
É a senha para que os pequenos quadros
se acelerem revelando grandes janelas.
O tempo não para, (h) ouve-se.