Sinédoques Avenida Amazonas, 5253 - Nova Suíça, Belo Horizonte - MG, Brasil
Postado em 14 de novembro de 2016 / 447

(sobre uma fotografia de Bráulio Chaves)

I

Do alto não 
vejo tudo
vejo partes 
há o que se mostra
se entro nesta lateral 
tempo fluido
resíduos…

pequenos quadros 
reverberam
a ala longa
fotogramas sonoros 
risos abafados

II
a escola esse centro 
logotécnico diverso
pensar margens
inventar materiais tenazes 
fero-ductilidade resilientes 
energias e máquinas
existenciais 
sibilinos sopros 
saberes se
hipotenusas flertam 
poiesis 
imagine-se.

II

Do solo 
batido sobe 
o prédio
a respiração 
o traço moderno 
a curva  
mais além
esconde 
e requinta 
a paisagem inquieta 
o olhar dobra 
a linha como o aço
a forja sublime.

III

Eleva-se no antigo terreno
onde outrora galinhas ciscavam,
espantadas pela máquina
vassala do progresso urbano.

Primeiro. Pilotis abertos,
passagens abertas
livre vão, caminho
para quem vai ou entra
sequência da liberdade
convite à permanência.

Depois, sinal dos tempos, o muro.
À frente, o grande painel
encardiu, a chuva lavou
a poeira fez o resto, o tempo.

IV

Ouço.
Ecoam-se vozes escondidas,
aquele campo de terra batida
bola joguei amigos amores
sanduíches rápidos no mineirão
não. carrefour
bairro

V

a noite desalenta-se 
deixa ver o projeto
a luz futurística
a haver se assim 
dissipar-se o fumo.

VI

O bairro acordou do silêncio pastoril.
Só a noite cautelosa traz o secreto sinal
de roça subestimada na beleza
beligerante da cidade vertical.

Indiferente às estrelas o ronco
dos motores as inquietas luzes
as sirenes apressadas pessoas
tudo a requerer urgentes rotinas.

A cidade industrial ali em frente
acorda cedo, às vias anchas
turbinam o coração do Brasil
seguindo ao fim da linha.

VII

Passeio bom. Pela Alpes alcanço o fundo
do campus. Inúmeras reentrâncias, locais
quase secretos onde os estudantes
passeiam distraídos dos sérios currículos.

O ginásio e o seu pequeno labirinto.
O longo corredor que parece alongar
as novas quadras, a apagarem o campo
antigo, a velha grama e os casais jovens.

Na quadra agita-se o basketball das meninas.
Outra em seu uniforme desportivo, deitada,
atira para cima as pernas e lê um livro qualquer.
Na minha direção meninos e meninas animados

ignoram o amanhã, pela simples razão 
de que o dia há de chegar mansamente.
É a senha para que os pequenos quadros
se acelerem revelando grandes janelas.

O tempo não para, (h) ouve-se.

Rogério Barbosa Silva

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